terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Resenha #58 Sociedade do cansaço (Byung-Chul Han)

[LIVRO DE NÃO-FICÇÃO] Olá. Trago novamente um livro de não-ficção e esse já é o 4º. Pretendo trazer mais, por dois motivos: Não acho que vale a pena criar outro blog só para isso e, principalmente, acho válido trazer obras de não-ficção para que autores/leitores de Ficção Científica especulem sobre a sociedade atual e não fiquem satisfeitos apenas com as especulações imaginadas nas obras antigas, por melhores que sejam. Sendo assim, o livro dessa semana é "Sociedade do cansaço" escrito pelo filósofo sul-coreano, radicado na Alemanha, Byung-Chul Han. É um livro muito curto, com 80 páginas, mas de muita relevância.

É dividido em sete curtos capítulos onde Han traça uma mudança na estrutura psíquica de nossa sociedade. Começa falando da Violência Neuronal, que é a forma de doença, que substituiu as bacteriológicas e virais do tempo da Guerra Fria. A depressão e o transtornos de atenção são exemplos dessa violência. A sociedade inteira age se punindo num excesso de positividade.    

O autor afirma que o poder não é mais exercido em forma de negatividade. Prisões, quartéis e fábricas não são os maiores instrumentos para impelir o indivíduo a produtividade e sim o próprio se cobra para isso, entra o conceito de "sociedade de desempenho". Os depressivos seriam aqueles, que não conseguem lidar com o fracasso em uma sociedade em que somos levados a crer que "tudo é possível". "a sociedade disciplinar ainda está dominada pelo 'não'. A sua negatividade gera loucos e delinquentes. A sociedade do desempenho, ao contrário, produz depressivos e fracassados." (p.24-25.)

Han invoca Nietzsche para propor uma pedagogia do ver, de uma visão contemplativa que não cede a todos os impulsos aos quais somos expostos. Esse mundo onde somos bombardeados com estimulos, principalmente visuais, é o nosso mundo, não apenas os imaginados na Ficção Científica. É a pervasividade da tecnologia que dá o alcance necessário para que sejamos afetados dessa forma. Ora, se não podemos escapar dos estimulos de positividade, assim como Case, em Neuromancer, que não consegue ficar longe da Matrix, nos resta o caminho da depressão e encher a cara nos bares de Chiba City. 

O autor usa o conto "Bartleby, o escriturário" de Herman Melville, como metáfora o trabalho como fonte da violência neuronal e as doenças psiquicas de nosso tempo. O conto traça um quadro de depressão e opressão, vivido pelo personagem principal de forma parecida com as distopias clássicas da FC (1984 e Farenheit 451, por exemplo) ainda com a sociedade disciplinar dos muros, guardas, fábricas. Contudo, nem Melville, nem os autores da FC conseguem conversar adequadamente com o depressivo da sociedade do desempenho. Fica a questão em aberto, pois há muitas obras da FC que não li ainda.

Essa "sociedade do desempenho" nos faz exigirmos de nós mesmos uma função multitarefa que nos assemelha aos computadores. Contudo, diz o Han"a atividade que segue a estupidez da mecânica é pobre em interrupções. A máquina não pode fazer pausas. Apesar de todo o seu desempenho computacional, o computador é burro, na medida em que lhe falta a capacidade de hesitar" (p.53-54)

A falta de capacidade de hesitar, de não conseguirmos mais contemplar e focar em uma coisa, é um caminho para a obediência cega aos estimulos. Os temas antigos da Ficção Científica tratam de tecnologias que se rebelam contra a humanidade mas o grande problema é justamente que essas tecnologias não tem a capacidade de hesitar, assim como nossa capacidade de hesitar é afetada na sociedade do desempenho.

Links para download
BARTLEBY, O ESCRITURÁRIO, Herman Melville
SOCIEDADE DO CANSAÇO, Byung-chul Han

Um comentário:

  1. Esse livro me foi recomendado hoje mais cedo, tive muito trabalho em encontrar, muito obrigado pela disponibilidade, se precisar de ajuda para encontrar alguma coisa me procure e eu ficarei feliz em tentar retribuir (alissonsaraiva@hotmail.com).

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